O perfil dos criadores de conteúdo no Brasil e o impacto durante a pandemia

Estudo com 428 criadores oferece perfil completo dos profissionais da área

Dezembro é marcado por um olhar para o ano que passou em busca de uma avaliação sobre objetivos e metas cumpridas (ou não). Nós do Criadores ID estamos neste clima também, claro. Entre janeiro e junho de 2021, realizamos uma pesquisa, com o apoio do Google, para desenhar o perfil do criador de conteúdo no Brasil a fim de mostrar como o trabalho tem funcionado e se desenvolvido e de que forma a pandemia do coronavírus afetou a produção. 

Em uma série de reportagens, tratamos sobre o impacto na saúde mental dos criadores, das novas tendências de consumo que pipocam nas plataformas, de como os profissionais têm se adaptado ao novo cenário, do mercado de publicidade e do que esperar para o futuro. Agora, encerramos a publicação do material com a divulgação dos dados completos do levantamento que ouviu 428 de criadores do país. 

Leia a série de reportagens baseada nos resultados da pesquisa

O perfil do criador de conteúdo brasileiro

A maioria dos criadores de conteúdo é jovem. 55% dos entrevistados têm entre 20 e 29 anos (a média é de 25,9 anos), e 59% possuem formação superior. Apenas 27% têm mais de 30 anos (e, como já vimos em outro texto, os criadores nesta faixa etária visam o YouTube). 

Sobre identididade de gênero e orientação sexual: 48% são homens, 44% são mulheres, 91% são cisgênero, que se identificam com o sexo de nascimento (47% mulheres cis, 43% homens cis), e 4% não cisgênero. Os heterossexuais são 60%, enquanto 18% são homossexuais, 13% são bissexuais e 3% são pansexuais. 

Há uma concentração bastante alta de criadores de conteúdo no sudeste do país, 65% (47% em São Paulo) residem na região. Em contrapartida, apenas 2% dos entrevistados são do Norte do país. No Nordeste, são 10%, no Centro-oeste, 4%, e no Sul, 17%. A maioria, 77%, mora com algum familiar. E 78% têm pets (em média, 2,2 pets).

Formação

A formação é muito diversa, mas é possível perceber certa concentração nas áreas da Comunicação – especialmente Propaganda e Marketing – e Arte e Cultura. Os de Comunicação chegam a 32% (Publicidade e Propaganda têm 17%), enquanto os cursos de Arte e Cultura marcam 23%. Administração aparece em terceiro, com 18%. Entre as faculdades privadas, a Estácio de Sá é a que mais aparece, com 4,7%, e entre as públicas é a USP, com 3,1%.

Dois em cada três criadores falam outro idioma além do português, o que representa 67% dos entrevistados. Destes, 63% falam inglês, 22% falam espanhol, 4% falam francês e 2%, japonês. A maioria, 59%, tem passaporte válido e 41% possuem visto válido (36% para os Estados Unidos).

Impactos na saúde

Mais da metade de todos os ouvidos pela pesquisa, 60%, avaliou que a pandemia afetou sua saúde mental

Em um recorte similar, 53% dos entrevistados relataram alguma limitação ou enfermidade. Um terço, 33%, apresenta algum transtorno psíquico – destes, 80% relatam ansiedade e 33%, depressão. 22% têm restrição alimentar, 15% possuem doença crônica e 3% são PCD’s. 

Dois em cada três, 62%, afirmam consumir bebidas alcóolicas (o que é mais comum entre criadores de 25 a 34 anos), enquanto 11% se declaram fumantes (hábito que diminui com a idade). A grande maioria, 76%, pratica atividade física, com preferência para caminhada, 31%, e corrida, 18%.

Publicidade

Mais da metade dos entrevistados, 54%, afirmam que a publicidade é o único sustento. Para cerca de 8 entre 10 entrevistados (78%), a pandemia abriu novas oportunidades de trabalho – deste número, chama a atenção que 83% aderiram ao TikTok durante o período

Além disso, 83% dos influenciadores afirmam que se sentem obrigados a criar novos conteúdos para segurar a audiência (em todos os segmentos). 

Os tipos de conteúdo que mais geram renda são beleza, dança, humor e informação. 67% dos criadores deste segmento dizem que a audiência cresceu no período, enquanto que 49% identificaram impacto positivo de crescimento das parcerias pagas.  

Plataformas mais usadas, conteúdos e collabs

Em média, os criadores produzem para duas a três plataformas, e a mais usada é o Instagram, com 86%. Depois aparece o YouTube, com 58%, seguido de perto pelo TikTok, com 47%. Entretanto, o TikTok foi a rede que mais cresceu no período: como citado anteriormente, 83% aderiram à plataforma no período.

O sistema operacional de celular preferido é o iOS, usado por 76%, enquanto o Android aparece com 24%. No computador, ganha o Windows, preferência de 71%, com o MacOS ficando com 25% e o Linux, com 0,9%. Não têm computador 1,4% dos ouvidos.

Os canais no YouTube têm, em sua maioria, um único participante: 76% (16% têm dois participantes, 2% têm três e 10%, quatro). Em média, cada canal atua em 2,7% segmentos – a maioria, no humor, 53%, seguido por vlog, 45%, e beleza, 37%. A maioria produz vídeos de até 10 minutos, 58%. De 10 a 30 minutos, 41%. Mais de 30 minutos, apenas 2%. Os vídeos mais longos são de vlogs e humor, com destaque para os segmentos de cultura pop, 59%, opinião, 52%, e gameplay, 50%. 

Sobre audiência, a maioria, 57%, tem menos de 30 mil visualizações por vídeo após 30 dias. Nos stories, 46% tem até 10 mil visualizações. Conteúdos de beleza e dança têm, proporcionalmente, menos audiência no YouTube. Já gameplay, mais. Nos stories, curiosamente a coisa se inverte e beleza e dança têm mais audiência. Vlogs, menos. 

O local preferido de gravação para os canais é a própria casa, alcançando 83,9%, enquanto 10,3% preferem estúdio e 4,9%, externas. A maioria prefere ser chamado de “criador”, mas nem todos: 59% preferem “criador”, 3% “creator”, 12% “digital influencer”, 12% apenas “influenciador”, 11% “youtuber”. Convidados a responder a pergunta “com quem você faria collab?”, os entrevistados citaram 320 nomes diferentes. Os três primeiros: Diva Depressão, com 11%, Depois das Onze, com 7,5%, e Maíra Medeiros, com 5,8%. 

E o futuro? 

A briga pela hegemonia entre as plataformas parece esquentar: hoje o Instagram leva vantagem, mas o YouTube dá sinais de que vai competir com força pelo topo. Quase todos, 95%, afirmam que se imaginam fazendo vídeos daqui a 10 anos – 45% para o Instagram, 43% para o YouTube e 9% para o TikTok. Quem vai determinar a liderança nessa corrida é o perfil do criador.