A edição de outubro de uma das mais renomadas revistas de moda do mundo fez história trazendo duas drag queens para sua capa. Pabllo Vittar e Gloria Groove foram destaque na Vogue Brasil e realmente quebraram a internet com a repercussão do feito.
A relação da marca com o público LGBT+ tem se estreitado cada vez mais nos últimos anos, período em que a publicação tem dado maior espaço e visibilidade para personalidades públicas que falam abertamente sobre o assunto.
E vou te dizer que essa história não se limita somente a essa capa não, hein!
O ensaio que entregou absolutamente t-u-d-o
Vestindo Gucci da cabeça aos pés, as cantoras foram fotografadas por Hick Duarte e a produção contou com mais de 45 perucas, 5 araras de roupas e 22 pares de cílios postiços.
As principais referências para as fotos foram imagens de fotógrafos dos anos 40 e 50, como Richard Avedon, Irving Penn e Horst P. Horst.
Em entrevista à revista, Pabllo, a primeira drag queen do mundo a ganhar um EMA, compartilhou a confiança que tem com seu trabalho e a felicidade de poder estampar a capa dessa edição. “Eu quero, eu posso, eu consigo. Sempre soube que ia chegar onde estou”.
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Gloria Groove também não escondeu a alegria de fazer parte desse momento histórico e conseguir levar um pouco mais de representatividade para a mídia. “Fico muito feliz que a gente esteja ocupando espaços como esse, me sinto em casa”.
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E não foram só Pabblo e Gloria os destaques da Vogue
Além das cantoras, a revista convidou outras três drag queens brasileiras para as versões digitais da Vogue Brasil. Entre elas, duas criadoras de conteúdo/youtubers e uma lenda viva do cena drag paulista.
A digital influencer Halessia não deixou nada a desejar para as outras modelos e também entregou uma capa estonteante. Ela ainda gravou todo o bastidor da produção para seu canal no YouTube.
Outra youtuber que também gravou todo o processo de montação e nos mostrou um pouquinho mais desse ensaio histórico foi Bianca DellaFancy. A drag, famosa pelos seus icônicos quadros de entrevistas, estampou uma das versões digitais com uma peruca verde e entregou muito carão.
Marcia Pantera, a precursora do bate cabelo e considerada a musa inspiradora de Alexandre Herchcovitch, também integrou o ensaio para a edição de outubro da revista.
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Mas será que elas foram as primeiras?
Em uma capa sobre representatividade drag, sim. Mas, por um mês, elas não levaram também o título de primeiras drag queens da história na capa da Vogue.
Acontece que a edição anterior da revista trouxe o artista e ativista Uyra Sodoma em um ensaio fascinante sobre a preservação da floresta Amazônica.
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Houve também um alarme falso na edição de setembro de 2019 da Vogue India. O instagram da publicação trouxe uma montagem com um ensaio das drags Rani Kohenur, Lush Monsoon, Zeesh, Betta Naan Stop, Ivanka Das, Maya The Drag Queen e Shakti como capa.
Mas acontece que a montagem era apenas uma arte para as redes sociais. Na verdade, quem estampou a capa dessa edição foi a atriz Priyanka Chopra.
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Independente de quem fez primeiro, a representatividade e a força política de trazer drag queens para a capa de uma das revistas de moda mais importantes do mundo é algo que não tem como negar.
E é isso que importa no final das contas, né?
E a comunidade trans na Vogue?
Você provavelmente já deve saber que drag é uma forma de expressão artística e a transsexualidade é uma questão relacionada à gênero, correto?
Apesar dessas capas serem um momento histórico para a representatividade LGBT+ na mídia, também precisamos lembrar e enaltecer outros momentos tão icônicos quanto esse – um deles, inclusive, envolve uma brasileira!
Em março de 2017, a cearense Valentina Sampaio também entrou para a história por se tornar a primeira modelo trans a ser capa da Vogue Paris. Em um ensaio de tirar o fôlego, Valentina estreou na publicação com o título “A Beleza Transgênero”.
A edição britânica da Vogue também já trouxe duas mulheres trans como capa. A primeira delas foi Laverne Cox, a primeira mulher trans a ser indicada ao Emmy Awards na categoria Melhor atriz, na edição de setembro de 2019 da revista.
Um ano depois foi a vez de Janet Mock, a primeira mulher trans negra a escrever e dirigir uma série de televisão: a premiada Pose, do canal americano FX.
Ver essa recapitulação de alguns dos principais momentos em que a Vogue trouxe personalidades da comunidade LGBT+ para sua capa dá quentinho no coração, né?
De pouquinho em pouquinho percebemos que as marcas e os veículos de mídia estão prestando cada vez mais atenção nas celebridades e criadores de conteúdo LGBT+ como forma de trazer mais valor e diversidade para dentro de casa. A gente espera que esse movimento continue e que tenhamos cada vez mais representatividade – até nos lugares em que nunca sonhamos que teríamos.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Criadores iD
Roteirista na Dia Estúdio, é jornalista de formação e produtor audiovisual com histórico de projetos focados na comunidade LGBT+. Com passagens por TV e empresas de marketing, entende a comunicação como uma poderosa ferramenta de transformação social. Do mainstream ao alternativo, é um apreciador de narrativas que engajam e, de preferência, com um bom plot twist.