Em 1996, Jennifer Ringley ligou a webcam em seu dormitório universitário e transformou a internet para sempre. Em vez de usar a câmera para falar com amigos e familiares em Harrisburg, na Pensilvânia (EUA), ela resolveu fazer algo inusitado: transmitir sua vida ao vivo, para um mundo de desconhecidos, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Ela teve a ideia depois de ver um site que transmitia um aquário, mas achou que com um ser humano seria mais interessante. Além disso, ela era programadora amadora e tomou a criação do código que deixaria o upload das imagens automático como um desafio. A ideia deu certo e ela compartilhou o site com alguns amigos, que realmente se interessaram e conferiam o conteúdo com certa frequência – até que foram passando para outros amigos, e amigos depois destes, e por aí vai.
No mundo atual de redes sociais e compartilhamento em excesso, a ideia pode não parecer inovadora. A única característica que um consumidor moderno de transmissão ao vivo no Facebook poderia considerar fora do comum sobre a Jennicam, como era chamada, era a falta de qualidade. As imagens exibidas eram em preto e branco e granuladas, com os frames trocados somente a cada 15 segundos. Para comparar, hoje a maioria das câmeras utilizadas por youtubers gravam uma média de 30 frames por segundo!
Ainda assim, cerca de 4 milhões de usuários conferiam todas as novidades da vida de Jennifer. Hoje em dia, talvez as pessoas se sentissem entediadas assistindo à Jennicam, porém, na época, ela realmente “quebrou” a internet e trouxe debates para a vida real. Tanto que a curiosidade virou condenação depois de uma noite íntima com seu namorado. As acusações de narcisismo e exibicionismo não eram muito diferentes das que hoje são feitas a participantes de reality shows como os da franquia Big Brother.
Suas exibições se encerraram em 2003, quando Jennifer desligou sua câmera e nunca mais apareceu. Naquele tempo, parecia que a combinação entre superexposição com sumiço total fazia parte de alguma estratégia da camgirl para falar algo profundo sobre privacidade na era da mídia. Mas não, era apenas um adeus.
Coordenadora de Conteúdo na Dia Estúdio, jornalista pela Universidade Federal de Santa Catarina, pós-graduanda em Gestão de Projetos, Marketing e Branding. Entusiasta da cultura nerd, espectadora de séries e filmes de todos os gêneros e louca por gatos.