Como os e-boys tem mudado a representação da masculinidade na internet

Mais que uma micro tendência estética, o estilo estilo e-boy nos permite observar mudanças na masculinidade e comportamento na internet.

Camiseta de manga longa listrada sobreposta, cabelo levemente desajeitado, correntes e cadeados pendurados no pescoço e os tênis (pretos, é claro!) vestidos com meias altas sempre aparentes pelo comprimento da calça. Há alguns anos a gente poderia facilmente estar descrevendo um garoto Emo em uma foto postada no Orkut, mas em 2020 (adicionando mecha de cabelo descolorida, fita led iluminando o quarto e uma dancinha viral à situação) a imagem descrita é de um e-boy em mais um vídeo do aplicativo TikTok.

@noeneubankswhen they frinch 🥴♬ original sound – rad.mars

Apesar do aspecto um tanto quanto deprimido e anti-social, estes garotos arrasam nas coreografias, decoram suas unhas com emojis felizes e são considerados super fofos pelas e-girls. Além de uma micro tendência estética, o estilo e-boy nos permite observar pequenas mudanças no espírito do tempo atual envolvendo masculinidade e comportamento na internet.

Já faz algum tempo que os ídolos teen tem mostrado novas maneiras de se vestir e comportar que fazem muito sentido quando olhamos para os valores e ideias que a geração Z carrega. Timothée Chalamet, Ezra Miller, Troye Sivan e Harry Styles são exemplos de figuras desse novo masculino, mais aberto, sensível e com menos medo de se apropriar de símbolo tradicionalmente ligados ao feminino.

A moda está de olho nos e-boys

A maneira com que esses jovens se vestem na internet tem provocado transformações no mercado de moda também. Em julho deste ano o estilista Hedi Slimane, diretor criativo da maison francesa Celine, lançou uma coleção de moda masculina intitulada “The dancing kid”, referência direta às dancinhas populares no aplicativo TikTok. 

Entre cardigans, camisetas listradas e correntes, os looks definem muito bem a estética desses garotos que estão sob os olhos do mercado como um grupo com grande potencial de consumo. O vídeo que apresenta a coleção ainda conta como trilha sonora com a música They Call Me Tiago, hit do cantor Tiagz que viralizou em vídeos do aplicativo chinês.

Os e-boys entraram no radar das marcas de moda de luxo faz pouco tempo, mas têm ganhado importância rapidamente. O primeiro sinal veio no final de 2019, quando a Celine escalou como estrela principal de uma de suas campanhas o famoso tiktoker Noen Eubanks. As fotos da campanha representam muito bem a cultura e-boy na figura de Noen e falam bastante sobre novos códigos de masculinidade sendo adotados pelo mercado.

Após uma era de exaltação do homem másculo, de rosto anguloso marcado principalmente pela barba, aparentando maturidade e confiança, a estética e-boy propõe códigos opostos. A figura de Noen exala uma juventude quase adolescente: sem barba ou pêlos no corpo, o modelo veste uma camiseta cropped (qual tiktoker que não cortou uma camiseta pra fazer um cropped nesta quarentena?) deixando o abdômen à mostra.

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Para Kati Chitrakorn, redatora de marketing no Business of Fashion, é possível observar um movimento de marcas e campanhas com menos medo de explorar o lado emocional do seu público masculino ao invés de apelar para seus atributos físicos. “À medida que a fluidez de gênero continua a crescer e os direitos LGBTQI se expandem na sociedade ocidental, a orientação sexual presumida ou aparente dos homens que as marcas visam para campanhas ou parcerias está finalmente se tornando menos importante.”

Masculinidade e comportamento no TikTok

Mas para além da moda e da estética, uma observação mais criteriosa desses jovens em seus vídeos revela uma mudança significativa em comportamentos. É fácil encontrar garotos falando de forma descontraída e, com uma naturalidade superpertinente à geração Z, sobre suas inseguranças, fragilidades e orientação sexual.

Estes assuntos deixam de ser grandes tabus e são normalizados dentro do conteúdo gerado no aplicativo. As unhas pintadas, barrigas de fora ou “rebolados” que até alguns anos atrás seriam (entre muitas aspas) “coisas de menina”, apenas materializam a naturalidade com que esta geração encara as questões ligadas à símbolos e representações de gênero.

Já é uma característica observada nos jovens nascidos entre 1995 e 2010, um maior entendimento e aceitação da pluralidade e diversidade de orientações sexual. Esta característica fica bastante explícita quando encontramos casais gays gerando conteúdo sobre suas vidas à dois com uma abertura super genuína e meninos sendo referência em vídeos tutoriais de maquiagens cheio de transições e efeitos que hipnotizam grande parte dos usuários da plataforma.

@itspierreboo✂️💇 @nickychampa♬ wild thots

Neste sentido os e-boys, assim como as e-girl, revelam mudanças no comportamento de uma geração inteira de consumidores, superligados à internet e que acompanham conteúdos diariamente com as mais diferentes finalidades. Conhecer estas mudanças e alinhar a comunicação e conteúdo com os os valores pertinentes ao seu público é essencial para criadores que pretendem se manter relevantes no mercado.

As mudanças explicitadas pelos e-boys e seu comportamento na internet são sinais de um mercado extremamente dinâmico que exige estudo e atualização constante tanto para influenciadores quanto para marcas.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Criadores iD